E se Paulo Bento me telefonasse com dúvidas?

E se o Paulo Bento me ligasse para o ajudar a elaborar a lista de convocados para o próximo jogo da selecção?

Ignorando os fantasmas da ópera (formação, falta de um avançado de nível, debate sobre a capitania da equipa, reforço dos poderes de um seleccionador pouco provado em provas internacionais, etc) que assombram e decapitam a ambição de Portugal, se eu fosse Paulo Bento, seriam estes os dezoito que lhe sugeriria para, a sete de setembro, receber a Albânia no primeiro jogo da fase de apuramento do Euro 16':

Beto: o 'Keylor Navas' português. Gosto de comparações. São permitidas a quem participa em 'ligas fantasia' com os amigos e não está na mira da crítica especializada. O 'gato do pizjuan', como é de forma idólatra acarinhado no Sanchez Pizjuan, começou a época desportiva numa forma sensacional. 'Paradons' a remates dos fulminantes James, Ronaldo e Bale na última edição da Supertaça Europeia colocam-no na linha da frente para assumir a baliza diante da Albânia.

Anthony Lopes: em França é descrito como um dos melhores guarda-redes da Ligue 1, agarrando de vez as redes do Lyon. Será sempre segunda escolha, mas depois de Ricardo se ter tornado no terceiro da hierarquia no Dragão, Eduardo ter emigrado para os Balcãs, e Rui Patrício não ter corrigido o criminoso jogo de pés, as opções com minutos ao mais alto nível não abundam.

Esgaio: voluntarioso, cedeu à tentação de procurar assumir-se como extremo. Aí, tenho sérias dúvidas de que alguma vez possa fazer a diferença. A lateral, apresenta-se como mais uma feliz adaptação de um jogador com formação atacante, mas que, resignando-se a substituir a arte pelo engenho, poderá ser uma opção interessante para a lateral direita. Na decadência de João Pereira e enquanto Cédric não recupera, pode aproveitar a oportunidade a tempo inteiro no Sporting.

Ricardo Pereira: o futebol português é pródigo em canivetes-suíços. Ricardo é só mais um exemplo. Comparativamente a Esgaio, tem a vantagem de, ofensivamente, fazer uso da ferramenta enunciada para rasgar em direção à área. Paulo Fonseca, Luís Castro, e agora Lopetegui, confiavam muito nele. Não podem estar os três enganados. Enquanto Cancelo não sai da sombra, deveria ser a hipótese mais forte para a posição de lateral-direito. Pode ainda jogar no lado contrário.

Rúben Vezo: quase sem se dar por ele, saltou do Setúbal para o Valência. Pizzi não apostou muito no jovem central, mas este início de época, já com Nuno Espírito Santo ao leme dos valencianos, Vezo tem feito parelha com Otamendi, que já lhe gabou o sentido posicional e a forma como aparece na área contrária em lances aéreos ofensivos. Juntamente com Ilori, o futuro passa muito por ele.

Neto: se com Spalleti passava mais tempo no banco que dentro do relvado, a chegada de AVB ao Zenit veio mudar radicalmente as perspectivas do defesa natural da Póvoa de Varzim. Depois de Ricardo Carvalho, é o central com mais classe a vestir as cores nacionais. Tudo dito.

Pepe: fará a ponte entre uma geração e a outra. Se não tiver bloqueios mentais comprometedores, é um dos melhores defesas do mundo.

Coentrão: inquestionavelmente, o lateral-esquerdo titularíssimo desta selecção. Está numa super-forma, dando continuidade a um final de temporada no Real Madrid em que relegou Marcelo para o banco de suplentes.

William Carvalho: enquanto não abandonar o Sporting, é metade do jogador que todos sabemos que ele é. Ou um quarto do que lhe perspectivamos poder vir a ser num patamar de exigência competitiva superior. Mesmo a meio gás, é superior a todas as restantes alternativas para a posição 6. A menos que Portugal mude de sistema táctico, é dono e senhor do lugar.

Sérgio Oliveira: Paulo Fonseca tenta emular o sucesso da sua primeira passagem no Paços, e conta com Sérgio Oliveira para levar avante os intentos. Jorge Costa apostou nele como o elemento mais adiantado do triângulo amarelo a meio-campo, mas Fonseca parece tê-lo redescoberto como médio de saída. Intenso e criterioso, fez duas grandes exibições diante do Benfica e FC Porto.

Pedro Tiba: a nova história da cinderela do futebol português. Há um ano saltava do Tirsense para o Setúbal e, depois de um ano a alta rotação, viu-se altamente premiado com o ingresso no Braga. Indiscutível para Sérgio Conceição, será um erro se aceder ao convite do Benfica. Para saber interpretar o jogar do meio-campo de Jesus, é necessário mais que uma pré-época.

Daniel Carriço: surge no Sporting num ano de fraca colheita académica. O clube granjeia a fama de apostador, e sente a obrigação de, a cada ano, lançar aos porcos uma pérola. Se o era, estava tão suja de terra que era impossível ver aquilo que o Sevilha poliu. Ou então, em Alvalade foi sempre um jogador fora de posição. Para Emery, foi imprescindível na época em crescendo do Sevilha.

Bernardo Silva, ou Rafa: como Gaitán no Benfica, ou Quintero no FC Porto, são dois jogadores que, mais que conhecerem a posição, conhecem o jogo. Por conhecerem o jogo, sentem-se à vontade no meio, mas também na ala. Rafa vem retomando a forma que o notabilizou antes da lesão que arriscou a presença no Mundial; Bernardo Silva, agora no Mónaco, faz parte daquele dossier 'apostas de risco' que gostaria de ver...com o título alterado. Não há risco em apostar em qualidade comprovada.

Ivan Cavaleiro: a menos que expluda no Deportivo, seria uma chamada, para mim, mais baseada no momento que na projecção daquilo que poderá vir a ser Cavaleiro. Tem características físicas muito interessantes, é muito intenso, mas olho para ele e vejo uma versão um bocado de Bebé. E Bebé, apesar dos bons apontamentos na 'Capital do Móvel', não deve nada à trapalhice. A menos que a camisola encarnada deixe de pesar.

Ronaldo: em condições físicas não-duvidosas, é presença garantida no lote final.

Mané, ou Salvador Agra: pelo virtuosismo, Mané entrava na lista sem discussão. Uma versão menos musculada de Nani, que vai provar que o Sporting devia ter virado agulhas no mercado de transferências para outras latitudes posicionais. Não que Nani não seja um reforço-bomba, mas urge encontrar um substituto para André Martins, o elemento menos dimensionado para uma prova como a Champions. No negócio-Rojo, a escolha leonina deveria ter recaído em Anderson. Agra segue a mesma linha de raciocínio de Cavaleiro
com o upgrade, em relação ao extremo do Deportivo, de oferecer mais poder de fogo nas imediações da área.

Éder: passa a imagem que, depois daqueles portentos que foram as suas exibições na Liga dos Campeões 12/13, a sua carreira entrou num buraco negro. Se Sérgio Conceição o fizer regressar à Terra, faz dele a opção mais credível e credenciada para a frente de ataque lusa. Aparece bem no espaço, mas necessita de se tornar mais clínico.

Gonçalo Paciência: depois de uma pré-temporada em que o deixaram sonhar ser a sombra de Jackson Martínez, o regresso à (triste) realidade da formação secundária portista, patrocinada pelo nossos directores técnicos. Ou, neste caso, pela sede mercantil insaciável do FC Porto. É o ponta-de-lança mais refinado que apareceu no futebol português nas duas últimas décadas.

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