GD Chaves: Perdigão e Vítor Oliveira, que "tudo pode"
“Bebo porque, quando o faço, acontecem coisas”. Coisas de
sábado à noite. Coisas de domingo de manhã no Municipal Engº Manuel
Teixeira
Branco. Parece um exercício mental complicado, mas é possível. Pelo menos
quando Perdigão, avançado recrutado ao D.Aves em Janeiro, aparece, num
mimetismo goleador que, em primeira instância, estava destinado a Tozé Marreco
ou Sandro Lima.
Até o golo surgir, naquele estouro de Perdigão, o jogo com o
Gil Vicente corria como os dias úteis da semana: devagar, divididos, com mais
precauções do que riscos porque há que poupar para apostar em grande no
fim-de-semana. Fazem-se de arreganho, reclamando-se valências defensivas numa
altura da época em que cada ponto conta como a vitamina D que a nossa pele é
capaz de absorver neste tímido sol de Abril.
A presença de jogadores como Perdigão – contrariando os
muros que servem de tranqueira defensiva da equipa de Vítor Oliveira – são um
pontapé na cotidianidade da II Liga portuguesa, dinamitando-a. São o tesouro
escondido dentro do Forte de São Francisco. ‘Enterrado’ algures nas imediações
da área adversária, quando é descoberto o jogo é outro, e o GD Chaves enriquece.
Faz-nos acordar. A nós, que saímos da cama mais cedo para assistir à apoteose
do clube mais emblemático de Trás-os-Montes.
Perdigão – juntamente com Braga, faça-se a vénia devida – é a personificação de um GD Chaves que, depois da arrebatadora
vitória diante do Gil Vicente, está cada vez mais próximo de recolocar a região
no melhor mapa futebolístico nacional. É aquele tipo que tem o dom de aparecer
sempre na hora e local exacto. Um convidado discreto com quem ninguém conta,
mas que acaba por ser o mais simpático e exitoso da festa. Um pouco à imagem do
já citado Braga, ou até de João Reis. Cada um com as suas peculiariedades e
aptidões, mas portadores do mesmo genoma.
De Janeiro para cá, qualquer opção de Vítor Oliveira é
discutível. Menos a presença de Perdigão em campo. O futebol torna-se sensato
quando os adeptos estão fartos de sofrer e esperar por uma subida anunciada há
pelo menos três anos. Perdigão, como muitos outros, é uma extensão do sofrimento
e crença flaviense; no fundo, representa aquilo que qualquer transmontano
tentaria se pudesse saltar para o relvado e demonstrar ao resto do país que
Trás-os-Montes se faz por si própria e vai reclamar o seu prémio.
Não sei quanto tempo irá durar a comunhão. Dure o tempo que
durar, vale a pena ir ao Municipal para ver a equipa de Vítor Oliveira roubar a
carteira a quem por lá passa. Nesta fase da sua carreira – e depois de nove
subidas de divisão – parece que pode tudo. Quero acreditar que sim. Eu, Trás-os-Montes,
e todos aqueles que acordam o sofá ao domingo de manhã. Está quase.
António Borges
Perdigão, orgulho da família e do povo São Miguelense!!!
ResponderEliminarUm belo texto, parabéns.
ResponderEliminarVale sempre a pena quando a alma não é pequena, e a alma transmontana é infinita.
obrigado a ambos pelo feedback :)
ResponderEliminarmuito obrigado, mais uma vez!