Borússia Dortmund: as sinergias de Tuchel estão nos detalhes em progressão ofensiva

Detalhes. Todos nós favorecemos o brilho e o glamour, o jogo estéticamente perfeito, ou uma série de jogadas loucas que ajudarão a nossa equipa a vencer um jogo. No entanto, à medida que a tecnologia se apodera dos nossos dias, fazer um apanhado das melhores partes do jogo para o mostrar ao mundo - numa questão de segundos - é demasiado fácil. O verdadeiro futebol necessita - e só consegue ser descoberto - em noventa minutos.
Recuso-me a acreditar que um golo fabuloso separa o valor de duas equipas. O mecanismo para criar esse golo é extremamente complexo. Todo o golo tem um contexto, não importando o número de atalhos, caminhos de terra ou auto-estradas que tomou para chegar ao destino final. Todos são formados a partir do básico, e o básico é um pequeno passo em direcção ao sucesso.
Mas, que é que isto tem a ver com aquilo que vos quero demonstrar? Não vos trago a análise a um jogo que todos os analistas e estatísticos gostam de antecipar. Nem um que coloque milhões colados ao ecrã. No entanto, é um jogo que vale mais a pena observar que os indirectamente mencionados. Recheado de inteligência, batalhas mentais e complexos, intrincados caminhos para o sucesso.
Deixou de ser um conceito básico aquele ala que não acompanha o lateral contrário nas subidas deste último. Tem muito mais a ver com as profundas conexões formadas nas mentes dos futebolistas. Conexões tão fortes que estes futebolistas poderiam jogar com uma venda nos olhos juntos dos restantes colegas em campo. Sinergias, uma palavra vital que define este conceito. Bem-vindos ao maravilhoso mundo do Borússia de Dortmund de Thomas Tuchel.
Acesso central
Uma parte integrante do campo. O controlo faz-se ao centro, apesar da definição de controlo ser tão volátil em cada par de olhos, mente. Controlo não é necessariamente a retenção da bola em posse. Está interconectado aos quatro aspectos principais de uma partida: a bola, os adversários, o colega e o espaço. Há pouca vantagem em reter a bola se não houver movimentações, ligações pobres e sem apoios.

A ilustração é referente à saída 'La Volpiana', onde o médio-defensivo (nº5) cai no espaço dos dois defesas centrais, que abrem largo, enquanto os laterais sobem pelo flanco ou, possivelmente, caem nível ainda mais profundo e alto do meio-campo adversário que lhe possibilite penetrar a última linha inimiga.

As conexões que podem ser criadas são por demais evidentes se, lá está, for respeitada a movimentação, o apoio. Uma equipa que não esteja comprometida a criar estas sinergias irá ter muitas dificuldades em criar ocasiões claras de golo. Um dos mecanismos para formar estas situações é, como mostra a imagem, onde, nas duas metades do campo podemos ver um 2vs1 realizado pela equipa azul. Movimento, superioridade qualitativa e jogo de equipa são três dos muitos tratados necessários para corromper a citadela adversária.

É aqui que entra a beleza do futebol: após o contínuo uso deste género de progressão, e a forma como está interligado para fluidamente se adaptar a diferentes fases da construção e progressão numa questão de segundos, no futebol moderno notamos como os pequenos detalhes podem ter um grande impacto e fazer a diferença nos aspectos do jogo atacante. Thomas Tuchel, tem-nos usado para superar o poder defensivo que muitos conjuntos da Bundesliga apresentam. Eis a forma como perfurou, a exemplo, o bloco denso do Monchengladbach:


O posicionamento do Monchengladbach, orientado para a marcação posicional nas zonas centrais do relvado, leva a que se abram espaços nas alas. Talvez tenha a ver com a chegada de quatro novos jogadores - ainda em preparação para o cada vez mais oleado conjunto de Monchengladbach que, nos últimos oito jogos, soma sete vitórias e apenas um empate. Fora, contra a Juventus.


Aqui podemos ver como o carrossel da equipa de Tuchel arrasta todo o bloco do Monchengladbach, que se move continuamente para proteger o espaço onde o Dortmund faz a bola circular de forma rápida e eficaz. Este é um dos mecanismos orientados para a marcação zonal e posiconal, onde o único espaço que deveria estar livre para o Dortmund seriam os flancos. Não é isso que acontece, no entanto..

À medida que o Monchengladbach se move todo para a direita da sua defesa, a intuição de Hummels é visível na forma como o primeiro golo se origina através de uma jogada sua para a zona..livre. O centro. Piszczek e Schmelzer abertos para assegurar alternativas - se repararem, as linhas do Monchengladbach apenas se começam a mover quando acreditam que o passe de morte entrará. Um passe que vai de um flanco ao outro através dos médios-centro do Dortmund, passa pelos laterais, lenta e lateralmente, sem penetração, antes de Hummels notar um buraco no meio-campo defensivo do Monchengladbach. Notem que os avançados do Monchengladbach estão muito longe da sua segunda linha, criando um espaço imenso para Kagawa operar, enquanto o Dortmund usou esses segundos de desprotecção para se aproveitar da visão e precisão de Hummels. Um passe cirúrgico do central em direcção a Kagawa, que num piscar de olhos coloca Reus na cara de Sommer, anunciando, assim, o primeiro golo da temporada para o conjunto de Tuchel. Pequenas mudanças na construção em progressão produziram este golo.
Decisões, decisões e mais decisões
Um passe de uma zona para outra nunca é uma decisão de risco. Acontece continuamente ao longo de noventa minutos. No entanto, a forma como Tuchel a usou para maximizar o potencial atacante da sua equipa é visível, permitindo criar um Dortmund perigosíssimo que desfez um normalmente super-organizado Monchengladbach.

Ligações. Aqui, Weigl cai lentamente em cima de Hummels, arrastando o nº9 do Monchengladbach com ele. Hummels facilmente bate o opositor, encontrando-se em excelente posição para aproveitar o espaço. Este movimento nada tem a ver com o segundo golo (que apareceria), mas mostra como os pequenos detalhes formam grandes decisões, podendo criar um manancial de opções que são repetidas até à exaustão durante o jogo inteiro.

António Borges

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