EUA: yes, eles podem!

Os adeptos dos EUA também (já) sofrem com o 'soccer'
"Os americanos irão sempre imaginar que as terras para lá das suas fronteiras são um sítio melhor para se viver. Se já tiverem o paraíso nas mãos e lhes disserem que ao lado se está melhor, eles querem mudar". O significado do 'Sonho Americano' não foi sempre o mesmo. Sofreu alterações à medida que o compasso do tempo se arrastava lentamente. Originalmente olhado como 'a oportunidade para lá da fronteira', hoje é apenas sinónimo de 'trabalhar no duro'. Foi isso que os apaixonados pelo jogo nos EUA, que cativa tanto os europeus, africanos e sul-americanos, fizeram em terras do Tio Sam. O futebol já não é só dos outros. O futebol já faz parte da nação norte-americana. Conquistaram esse direito por mérito próprio.

É uma perda de tempo entender este jogo de outra forma que não seja global. É uma perda de tempo ficar com o jipe atolado no tema do Paulo Bento, no avançado que não chega para substituir Rodrigo, ou no sangue que a comunicação social bem tenta fazer escorrer sobre Ricardo Quaresma. O futebol é um fenómeno planetário, e quem percebe a amplitude da afirmação, não deixa de reparar que, após o heróico Campeonato do Mundo, os norte-americanos até já cometem a ousadia de vir vencer ao berço da modalidade. Foi a República Checa, num amigável, mas se fosse num contexto diferente, apenas seria o eco do desenvolvimento progressivo do 'soccer' nos Estados Unidos da América.

O número de telespectadores não pára de aumentar. Durante o Mundial, as principais artérias das maiores cidades norte-americanas pareciam ter parado para assistir a um desfile de um qualquer feriado religioso. Os olhares estavam concentrados naquelas caixas a cores que nos ligam ao resto do planeta. As 'avenues' já não se enchiam apenas de curiosos como até então. Agora sofre-se com futebol, e as pupilas não descolam dos ecrãs-gigantes que servem de imagem de marca e iluminam os grandes centros turísticos, culturais e financeiros daquele país. Apesar do actual fervor, nem sempre foi assim. Mesmo depois de organizar o Mundial 94', houve quem esmorecesse o entusiasmo. A política, sempre de olho no peso do desporto, amaldiçoava: "Nenhum americano, cujo avô tenha nascido aqui, está a ver futebol.  Esperamos que, além de aprenderem inglês, os novos americanos que estão para nascer rapidamente desistam do fetiche pelo futebol". O tempo provaria que milhões de americanos haveriam de discordar com a sentença. Lentamente, mas seriam cada vez mais.

Mas a que se deve este renovado interesse na modalidade? A resposta está na contínua imigração. As comunidades originárias de culturas que veneram o desporto não páram de crescer. Estima-se que, por exemplo, em 2020, em Miami, exista uma fracção hispânica maior que os descendentes de nativos americanos. Os Estados Unidos são cada vez mais jovens e com interesses diversificados. Os filhos de hoje, gostam mais de futebol que os pais. Apesar da histórica e inalterável preferência pelo basquetebol, basebol ou futebol americano, entre 1999 e hoje, o número de praticantes registados em programas de futebol juvenil atingiu a promissora marca de quatro milhões. Em sondagens recentes, apurou-se que, adolescentes e jovens adultos com idades compreendidas entre os 12 e os 24 anos, tem no futebol o seu 'segundo desporto'. Tudo isto faz explodir o índice de crescimento da modalidade, comprovadamente o maior da última década. Subjacente ao autêntico 'boom' do futebol, está a capacidade norte-americana em espremer ao máximo e descobrir o 'sex-appeal' em tudo o que são músculos a suar. Basta relembrar que uma larga fatia da população, a feminina, é a que tem maior sucesso no plano internacional, facto que muito terá contribuído para concentrar a atenção masculina fora dos pavilhões ou dos recintos onde a banda sonora são ossos e protecções a estalarem. Os maiores clubes do Velho Continente também estão atentos. Muitos deles, concentram a sua preparação pré-época naquele território. Amealham simpatias, daão uma mão ao marketing e, já que ali estão, aproveitam para se gladiarem com algumas das melhores formações europeias. Com tudo isto, passou a haver mais futebol na TV norte-americana que noutra nação a nível mundial, elevando os 'shares' de audiências para níveis superiores aos registados nos 'playoffs' da NBA ou nas 'World Series', as finais do campeonato de basebol da MLB.

Nos EUA, a piada era recorrente na boca dos descrentes e preconceituosos: "O futebol é o desporto do futuro, e sempre irá ser". Bem, parece que o futuro chegou e está para ficar.

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