Atreve-te a ser Zlatan!

Ele desafia-nos. Um bocado como o rufia do bairro, que escarnecia de nós, olhava-nos de cima para baixo. Fareja-nos o medo, a inabilidade para lhe ocupar o trono de rei do futebol. Futebol jogado num passeio, constantemente amaldiçoado pelos comerciantes que muitas vezes acabam com o vidro da loja partido. Este homem é Zlatan, que ontem atingiu a simbólica marca da centena de internacionalizações pela Suécia e que, dias antes, havia destronado Sven Rydell da posição de melhor marcador dos canários nórdicos. Como qualquer record que se preze, durava há décadas. Desde 1932. Parecia que tinha sido alcançado noutra vida e que, a partir daquele momento, tornar-se-ia uma regra a respeitar, frustrantemente inalcançável.

Mas para ser Zlatan tens que estar preparado para quebrar algumas regras. Como aquele golo de pontapé de bicicleta a uns bons 30 metros da baliza de Joe Hart. Para ser Zlatan, tens que aceitar que farás alguns inimigos. Que o digam Guardiola ou Van der Vaart, que até partilhavam com ele a intimidade do balneário. Ser Zlatan é disparar sem medo, é não hesitar, em 2004, em fintar meia equipa do NAC para marcar aquele golo que, a seguir ao tango de Bergkamp, foi o golo mais tecnicista de todos os tempos. Aceitar o caos que uma personalidade vincada sempre acarreta; aprender a ser amado, odiado, mas sobretudo tudo o que houver no meio dos dois. Ser Zlatan é mostrar a coragem para colocar tudo em jogo, como no dia em que se negou a ficar à experiência no Arsenal de Wenger. "Zlatan não vai a audições". Tinha 17 anos.

Ibracadabra é uma 'matrioska' invertida. "Um homem sábio uma vez disse: surpreender o teu adversário é a chave para o derrotar. Esse homem era Zlatan". A surpresa é que a boneca não minga. De ano para ano está cada vez mais assustadora, mas ciente do que é preciso para continuar na rota dos extraterrestres: "Para mim, falhar é o primeiro passo para o sucesso. O segundo é deixar crescer um rabo-de-cavalo". Com retirada anunciada para o final do Euro 2016, a Suécia já desespera com a notícia. Percebe-se. Qual Chuck Norris, é o único por aquelas bandas que desafia as leis da físicas e ameaça o contínuo espaço-tempo. Apesar do narcisismo, Ibrahimovic não é apenas presunção. Na última partida dos nórdicos, foi a vez do astro fazer a vénia. A nós. "You made it possible", letrava a t-shirt que envergava por baixo da camisola. É bom sentirmo-nos como ele, mesmo que seja por breves segundos.

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