AS Mónaco: o sonho de Rybolovlev acaba antes de começar

Junho de 2013. A promoção à Ligue 1 havia sido assegurada em Maio, pelo que os convites estavam endereçados. Apenas aos mais ilustres. Aperaltavam-se em frente a espelhos gigantes. Compreensível: a partir daquele dia, podiam tropeçar num membro da família real monegasca a qualquer momento. Receber um convite de Monte Carlo era então irrecusável. O principado já exibia os melhores carros, tinha atracados na sua baía os iates mais reluzentes, mas queria adicionar à sua colecção mais obras-de-arte de tirar o fôlego. Chegam Moutinho, James Rodriguez, mas sobretudo Falcao. Os altos valores investidos em pré-galácticos contrastavam, numa perfeita sintonia, com a aquisição de marcos experientes, na cara de Ricardo Carvalho e Eric Abidal, apimentados na dose certa com a emergência de jovens talentosos como Kondogbia e Martial.

A temporada começou como se anunciava. O Mónaco não perdia, mas não deslumbrava. Apurou-se para a Liga dos Campeões deste ano, mas nunca descolou dos calcanhares do PSG. Apesar do estatuto de novo-rico, o Mónaco ainda não se servia do vinho que chegava às mesas parisienses.  Era claro que o sonho de Rybolovlev estava apenas no seu raiar. Havia um segundo ano para maturar o projecto, para planear um cerco bem-sucedida à 'Cidade Luz'. Mas, subitamente, a torneia do dinheiro fecha-se. Deixa de haver meios para comprar ração. El Tigre está esfomeado, e sabe que terá que partir em busca de tratadores que o mimem com a melhor carne. A escolha recai nas suculentas pradarias britânicas, mas apenas porque faltou uma opção mais conveniente às inacreditáveis necessidades actuais de um clube que até há bem pouco tempo olhava tudo e todos de cima para baixo.

Que se passou então com a generosidade do proprietário do Mónaco, o russo Rybolovlev? As explicações não caem nas bifurcações interpretativas de um guião de Kubrick, mas convém fazer uma contextualização assertiva das diferenças que separam este, de outros oligarcas. Para Dmitry Rybolovlev, o AS Mónaco não é apenas o brinquedo usado para terminar com o bocejo. O multimilionário criou uma ligação emocional com o micro-estado, ao contrário de Abramovich e o seu 'Chelski'. Não estava preparado para o que aí viria. Incapaz de desconfiar, em 2011 e quando começou a investir no clube, que a subida da Ligue 2 seria o sucesso mais retumbante que possivelmente alguma vez brindará a champanhe. Envolvido num processo divórcio litigioso com a ex-mulher, está a uma unha negra de ver a sua riqueza pessoal mutilada em oito biliões de euros (!), fatia a ser entregue à ex-senhora Rybolovlev. Mesmo que o cenário à frente de Dmitry fosse mais meigo, a recente entrada em cena do Fair Play Financeiro vem apanhar o clube em contramão, ainda não preparado para lidar com a inflexíbilidade imposta pela lei do tecto salarial. Apesar de tudo, o Mónaco esteve muito perto de passar incólume. Frequentes nos paraísos fiscais, não é? Em Janeiro de 2014, o clube resignou-se, e voluntariou-se, a pagar 50 milhões de euros à Federação Francesa de Futebol para manter o estatuto primodivisionário. A alternativa teria sido, em 2015, o Mónaco estabelecer-se em França, ficando à disposição da taxa assassina de François Hollande, a taxar a 75% rendimentos anuais superiores a um milhão de euros. Se a isto juntarmos a patética afluência de público ao Stade Louis II, e o paupérrimos patrocínios amealhados, torna-se compreensível a retirada de Dmitry Ribolovlev.

Nem a venda surreal de James Rodriguez inflou o balão de oxigénio. O sonho de Rybolovlev acaba, mesmo antes de ter começado. Estamos em Setembro e o estio aquece as águas da baía. Em Monte Carlo, já ninguém tem vontade de festejar.

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