Danny Welbeck: medalha de ouro no pódio do ódio

Não há áreas cinzentas no futebol. Muitas vezes, é assustadoramente pararelo com a vida. Divide-se num mundo altamente bipolarizado: ou estão contigo, ou contra ti. Connosco, há sempre uma explicação. Há sempre uma forma de amenizar ou evitar situações limite. Mas nós não somos jogadores. Somos adeptos, e a maior parte destes ainda respira uma mentalidade medieval, de fiéis e infiéis. O sucesso anda sempre com o bafo da inveja nas costas. Torna-se um fardo. Ainda que não admitam, mais que invejados, querem aquilo que nós temos. É nestas alturas que virtudes como a lealdade e a devoção são postas à prova. Nós, os adeptos, já raramente embarcamos em contos de fadas. Já não somos românticos incuráveis. Por tudo isto, não nos espanta que Danny Welbeck tenha acrescentado um novo capítulo àquelas traições que perduram muitos anos nos livros de história. Talvez não tenha a magnitude da época em que Figo saiu da Catalunha rumo a Madrid; ou mesmo os ódios gerados por Van Persie ao fazer o percurso inverso, mas nenhum deles estava ligado umbilicalmente ao clube como
Welbeck. Nascido em Manchester, estava na academia desde sempre. Olhar hoje para um vídeo onde Van Nistelrooy - à data o avançado do United - ensina um drible a um petiz Welbeck, dispensa agora o saudosismo. Bem pelo contrário, apenas vem acentuar a força do murro na barriga.

O talento dele nunca foi proporcional ao apoio que toda a gente dispensava a Welbeck Todos sabiam disso. Desde que apareceu que dividiu opiniões. Tem aquele estilo de quem parece que a qualquer segundo vai tropeçar na bola, mas acaba, quase sempre, por concluir bem os lances em que está envolvido. A falta de compostura na cara do golo era assiduamente compensada com um compromisso sério com a entrega. Nunca foi titular indiscutível, mas não necessitou do rótulo para se tornar uma referência no coração de Old Trafford. Mesmo que, incompreensivelmente, o United insistisse em reforçar a linha atacante em detrimento de sectores deficitários como o meio-campo. As chegadas de Kagawa e Robin Van Persie apenas vieram adiar o desfecho que a aterragem de Falcao precipitou.

Não sou afecto ao Manchester United. Emocionalmente, é uma mudança que me diz pouco. Mas cresci a ver a apoteose de Giggs, dos irmãos Neville, de Butt ou de Beckham, e sempre senti que estamos mais perto de simpatizar com um clube que dá uma oportunidade às proprias criações de ali fazer carreira. Financeiramente, o negócio faz todo o sentido. O Arsenal muniu-se de um avançado que oferece mais soluções que Giroud, e o United pode transfigurar-se com a presença de El Tigre.  O dia chega ao fim com a sensação que, todo o apoio que Welbeck sempre recebeu, nunca teve muito a ver com futebol.

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