Rafa Silva, a barba que assenta bem a este SC Braga

"(...)A noite passada, um paredão ruiu (...)"

Pista: desta vez, o responsável não foi Sérgio Godinho. Reapareceu Rafa Silva, a barba que assenta bem a este SC Braga. Um talento inimitável, que fala pouco à imprensa, sorri muito (se eu jogasse metade do que ele joga, também o fazia), e é o génio da lâmpada dos 'Gverreiros' de Paulo Fonseca. O avançado, diferente de todos com a bola nos pés foi, também sem ela, diferente de muitos outros. Em Janeiro, não trocou as toneladas de carinho braguista pelas arrobas de notas que por ele desejaram desembolsar. Não partiu para ganhar mais dinheiro, ou títulos. Ficou em Braga pela mesma razão com que havia chegado: jogar e ser figura. Entra em campo após cada beijo concupiscente no escudo do clube, frases de imensa gratidão para com a oportunidade de quem relembra, após cada fim-de-semana, que quer ser eterno no coração da cidade. Rafa Silva, um 'hoplita' forjado no Minho, resguarda-se na guarda pretoriana montada por Luíz Carlos, Mauro e Vukcevic para, corpo-a-corpo, deitar por terra qualquer estratégia táctica montada pelo adversário. A história é tão velha como simples: Rafa escapa-se, e a muralha rasga-se como uma folha de papel vegetal.


Rafa Silva, um jogador extraordinário e para o qual não há substituto (nem Pedro Santos conseguiria assumir o fardo), ficou porque quis. Numa fase da época em que o Braga se encontra bem posicionado em todas as frentes, Salvador mudou a fita do filme que sempre passava em Braga nesta altura: aceso o melhor televisor da casa, vendido pelo melhor preço. A sua ideia de clube, que representa uma agência de compra e venda de jogadores, sustenta essa tese. É o que é. Mas desta vez, Salvador não fez aquilo que melhor sabe. Por esta altura, a projecção do Braga é tamanha que não há espaço para espectros. O negócio fez uma pausa, e de vender, passou a ser vencer. 

Rafa Silva, o rapaz que Paulo Fonseca converteu num dos melhores jogadores do nosso campeonato, assim que foi convencido que os bons também podem, e devem correr. Com a bola e sem ela. Rafa Silva, comprado em 2013 ao Feirense por 300.000 euros vale, quase três anos depois, mais de 15 milhões. Um negócio que um dia terá números arredondados e suculentos para os cofres do Braga, mas que será feito numa altura oportuna, sem frases ocas ou meias-verdades, abrindo espaço a que os adeptos sempre o recordem pelas maravilhas que fazia com a bola e a forma limpa com que deixou uma instituição que, pela primeira vez e por causa de um jogador, mudou a sua política em prol de um jogador que. no coração braguista, só não se pode equiparar a Alan.

O Braga manteve Rafa. Uma boa notícia para a cidade, para o balneário, mas péssima para toda aquela corrente de imprensa que sataniza o esforço e premeia a monopolização a três do futebol português, como se correr mais que os outros fosse para equipas pequenas e o Braga tivesse sido durante décadas uma equipa de pedreiros. Rafa Silva, aquele que é diferente, demonstrou que faz sentido sê-lo. Rafa Silva, o mais elegante com a bola, não quis ser um ordinário de Janeiro para ganhar a hipótese de ser extraordinário daqui até Maio. Não se mudou para pastos mais verdes e, agora, será muito fácil a Salvador no Verão dizer: "Rafa foi-se, mas o clube ficou". O português ir-se-à, mas o Braga ficará. O português ir-se-à, mas Paulo Fonseca ganhará legitimidade para assumir a luta pelo título da próxima época. O português ir-se-à, mas o compromisso terá pernas para aumentar. O português teve o mérito de fazer os braguistas acreditar que é um deles e que, saindo no Verão, não passará a ser apenas mais um dos outros. O português faz-nos acreditar - sim, a nós também - que o Braga é camisola, suor e mérito. O resto, meus amigos, é apenas literatura. Ser-lhe-à feita a vénia por tudo o que conseguiu dentro do campo, mas sobretudo fora dele. Irá, mas outros virão. Derramar-se-ão lágrimas de saudade, mas limpar-se-ão com as toalhas dos que ficaram, e não com as que ele deixou. É o tipo de compromisso e esforço que merece, e exige respeito. Outros quererão ter saído em Janeiro, mas Rafa escolheu trabalhar e sacrificar-se por uma equipa que ainda pode vencer tudo e sonhar com a qualificação para o 'playoff' da Liga dos Campeões. O sacrifício pela camisola e pelo suor. Nada nem ninguém acima da equipa. Rafa Silva, a barba que assenta bem a este SC Braga, é um exemplo que esperamos fazer regra.


António Borges


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