'Penso, Logo Jogo': o Presidente de Alvalade, a canibalização dos médios do Porto e as flores no deserto encarnado

O 'Futebol-Tricot' volta a desembainhar a agulha, pronta a tricotar no papel. Sem usar dedal ou alfinetadas (polémicas, arbitragens, etc), semanalmente, o autor deste espaço volta a atirar uma pedra ao charco, desta feita com uma nova rubrica, orientada para a análise do futebol jogado pelos três grandes em cada jornada. O que os define, a performance individual/colectiva, a relação que mantém com a bola (em posse ou recuperação), entre outras nuances que acrescentam valor ao marasmo generalizado e imposto pela esmagadora maioria dos comunicadores desportivos em Portugal. Quer saber como joga uma equipa? Bem-vindo ao 'Penso, Logo Jogo'!


Arouca - Benfica

- como flores no deserto, há pequenos milagres que vão desabrochando na Luz. mesmo com a falta de identidade patente no colectivo de Rui Vitória, muito mérito para o trabalho operado com Víctor Andrade na equipa B (veio trazer o repentismo que John não ofereceu), mas também com Nélson Semedo. Apesar do posicionamento deficiente no golo do Arouca (fechou por fora), vale a pena continuar a seguir a evolução do jovem lateral.

- a inclusão de Samaris visou dar cobertura extra ao desnorte e maus 'timing's' de Eliseu, mas o golo do Arouca nasce precisamente do aproveitamento de uma dessa fugas do lateral-esquerdo encarnado, com a bola a entrar nas suas costas.

- a segunda parte trouxe um conforte ilusório ao Benfica. o bloco do Arouca baixou propositadamente, agarrado à crença de que aquele era, como se viria a revelar, o caminho para o sucesso. Pizzi pegou no jogo, acelerou-o com lançamentos longos à procura da profundidade lateral de Gaitan, mas também de um muito faltoso Mitroglou. Jimenez pouco tempo teve para sobressair, apesar da renitência em usar o seu pior pé para finalizar uma jogada potencialmente perigosa para a baliza de Bracalli.

- a entrada de Carcela colocou a nu a fragilidade do sistema defensivo a três que Rui Vitória montou após a entrada do belga, retirando Eliseu. o Benfica corria atrás do empate, mas a dinâmica não tem claramente treino suficiente e só as más decisões de Maurides impediram que o resultado se avolumasse a favor do Arouca.

- nota ainda para a manutenção de um velho hábito, introduzido por Jorge Jesus. nas bolas paradas defensivas, TODA a equipa está metida na área.

Sporting - Paços de Ferreira

- a inclusão de Montero no onze acabou por eclipsar a influência que Bryan Ruiz vinha assumindo no jogo do Sporting. A necessidade do costa-riquenho fugir da área, para se juntar ao carrossel que Jesus vai oleando, chocou com os hábitos do colombiano. no futuro, muito raramente veremos uma dupla de avançados que não a protagonizada por Slimani e Teo.

- Naldo pisa aquele relvado como se fosse o presidente de Alvalade, assumindo-se como o grande rochedo que Jesus encontrava, na Luz, em Luisão. Conhece as suas limitações e isso, por si só, eleva-o à condição de instrumental na manobra defensiva do conjunto leonino.

- a saída de jogo, com Aquilani em campo, começa, invariavelmente, nos pés do italiano, que baixa para fazer par com Naldo, alargando Paulo Oliveira, o outro central. Este início a três abre a possibilidade da tabela com João Mário, mas também, e sobretudo, a ruptura através das fugas de Jefferson e Pereira, balançados para o ataque.

- a organização defensiva deste Sporting diverge completamente daquela que Jesus apresentou aquando da sua passagem pelo Benfica: bloco baixíssimo a defender, com o meio-campo colado ao quarteto mais recuado, fazendo da pressão alta uma imagem do passado.

- Jesus é claramente o responsável por todo o futebol dos leões: contratações cirúrgicas, todas com muitos - quando não todos - minutos.


Marítimo - FC Porto

- esta versão 15/16 dos dragões tem um sério problema de canibalização. Em prejuízo próprio: os três médios mastigam demasiado o jogo e acabam por 'comer-se' uns aos outros, engolindo o espaço do colega de sector. O problema não está na saída de jogo do FC Porto, nem no segundo passe da transição ofensiva. Danilo constrói fácil e curto (sobressai, porém, no desarme), Imbula é fiável no transporte e na entrega, mas o terceiro médio terá que passar sempre por alguém que só não é Quintero porque, aparentemente, não quer.

- não fazer entrar Bueno num jogo com estas características é limitar ainda mais o planeamento que os azuis e brancos sempre terão que levar contra equipas com linhas tão recuadas. Não deslumbrou na pré-temporada, mas deu fortes indícios de que é o elemento mais capaz num cenário como o observado no 'Caldeirão' dos Barreiros.

- onde o jogo do FC Porto poderia ganhar nova vida (motivada pela ausência de criatividade no último passe no corredor central), é onde morre. mais concretamente nos pés de Brahimi. O argelino tem cimento-cola naquele pé direito, mas a temporização e os dribles em excesso acabam por atrasar - quando não a paralisam - a restante maquinaria azul e branca.

- Individualmente, nota negativa para a performance de Cissokho. O FC Porto perdeu a inteligência na posição de Alex Sandro, e o francês só com uma condição física e ritmo invejáveis poderá acrescentar, ou camuflar, a ausência de um lateral com as qualidades do brasileiro.


António Borges

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