'Penso, Logo Jogo': a primeira vez de Sporting, Benfica e FC Porto

O 'Futebol-Tricot' volta a desembainhar a agulha, pronta a tricotar no papel. Sem usar dedal ou alfinetadas (polémicas, arbitragens, etc), semanalmente, o autor deste espaço volta a atirar uma pedra ao charco, desta feita com uma nova rubrica, orientada para a análise do futebol jogado pelos três grandes em cada jornada. O que os define, a performance individual/colectiva, a relação que mantém com a bola (em posse ou recuperação), entre outras nuances que acrescentam valor ao marasmo generalizado e imposto pela esmagadora maioria dos comunicadores desportivos em Portugal. Quer saber como joga uma equipa? Bem-vindo ao 'Penso, Logo Jogo'!


FC Porto - V.Guimarães

- o FC Porto continua igual a si próprio. a multiplicidade de soluções converge com a apresentada no passado. dos três grandes, a formação de Lopetegui é aquela que apresenta mais soluções fora das zonas de decisão. no sábado alinhou Danilo à frente da dupla Marcano-Maicon, possibilitando um início de construção curta, que só sofria destoo através das variações longas do centro de jogo de Maicon, ou dos esticões (nem sempre bem medidos) de Imbula

- a equipa continua a esticar-se a todo o comprimento no relvado, apresentando uma profundidade interessante nas alas, com destaque para a envolvência dos laterais com os alas que lhe fazem par. Ora saindo, ora irrompendo pelo meio. Espantosa a química de Maxi com colegas que não foram os seus nos últimos oito anos.

- Imbula, já se sabe, é poderoso no transporte, confere verticalidade e queima algumas etapas com slaloms pelo centro; Varela acompanhou-o, mas nas laterais, contrastando com a tendência natural de Tello em se aproximar da carreira de tiro em acções individuais.

- a vantagem numérica no meio-campo defensivo do Vitória foi reposta com a saída de Herrera e a entrada de André André, que se dá mais ao jogo sem bola, muito capaz em ataque apoiado. já o mexicano, insistiu, de forma inútil, na progressão, face à teia bem montada por Bouba Sauré e Cafú.

- Aboubakar nunca será Jackson, mas esse facto passa para plano secundário quando há médios como Imbula ou Herrera, tão intímos a procurar o desequilíbrio sem bola, com vaivéns constantes. com passada larga e tiro pronto, o camaronês fez dois golos, saindo do papel teórico do 'nove', sobretudo para procurar os movimentos de ruptura do enunciado médio francês

Benfica - Estoril

- Dinâmicas interessantes de Nélson Semedo. Sobretudo na envolvência com o ala com quem mais conviveu competitivamente na temporada passada, Víctor Andrade. Mais em posse que em recuperação, mas isso já advém das lacunas posicionais que este Benfica apresenta. Colectivamente e individualmente (Eliseu já tem experiência para fazer melhor).

- boa impressão da primeira aparição de Mitroglou. Não cavar a própria ilha no primeiro jogo é um excelente sinal para o futuro. Oportuno no espaço. As lacunas técnicas (pé esquerdo cego) podem sempre ser limadas.

- acabou a verticalidade vertiginosa pelo corredor central, local predilecto onde o futebol do Benfica dava à Luz nos últimos anos. A organização em ataque apoiado deslocou-se para as laterais (quase sempre pelo pé de Gaitán, que recua), através de uma construção curta. A rápida nasce consecutivamente de passes em profundidade para a cola de Jonas, mestre a temporizar e o único sobrevivente da relação íntima com Gaitán. Fejsa nunca será o iniciador da transição ofensiva (sobretudo por apenas ter mais um elemento central a seu lado).

- Gaitán é imune a todas as mudanças. de comando técnico, estruturais, tácticas. o Benfica procura uma nova identidade, mas a que mais sobressai é a do argentino, sempre com brilho muito próprio.

- costuma apregoar-se que, para atacar bem, há que defender melhor ainda. O lado da moeda deste Benfica é o oposto a essa máxima. A relação com a bola (e c/os espaços) está a milhas da vislumbrada no passado. Não há milagres, mas os sinais animadores urgem. É que a primeira jornada da 'Champions' já não está tão longe quanto isso...a seguir assim, arrisca-se a uma campanha ainda mais desoladora que a anterior.

Tondela - Sporting

- embora com menor incidência em relação ao jogo da Supertaça, foi notória a capacidade deste Sporting de criar vantagem numérica em zonas de finalização, marca d'água das equipas de Jesus. muito por culpa das incursões e movimentações contra-natura de Carillo e Bryan Ruiz, instrumentais a abrir espaços nas laterais a Pereira e Jefferson

- os mesmos espaços que rasgaram as costas da defesa do Tondela, com a ajuda de um dos avançados. Teo, sólido mas móvel quando baste, cai preferencialmente na direita, onde endossa para quem sabe no meio (Carillo), que descobre de forma magistral Bryan Ruiz na área, cruzando este, por último, para o João Mário, que concretizaria em esforço

- o futebol leonino ainda está demasiado dependente dos vagabundos Ruiz e Carrillo. quando o costa-riquenho ficou sem combustível, o leão parou de rugir, permitindo ao Tondela incursões (sobretudo por Murillo) perigosa, resultando de uma delas o livre que colocou a nu as fragilidades de cobertura defensiva do Sporting nas bolas paradas cobradas ao seu segundo poste.

- o golo da vitória resulta de uma das impressões digitais que Jesus já deixa nesta equipa: os lançamentos longos de linha-lateral.


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