Jonas e o sinal pedido pelos fariseus a Jesus

Há uma passagem na Bíblia que relata a desconfiança, instaurada pela comunidade, na divindade de Jesus. Uma de entre muitas, aliás. Para convencer os fariseus e 'doutores da Lei' da época, Jesus evocou a experiência de Jonas - personagem bíblico - que havia passado três dias e três noites dentro do ventre de um peixe, sendo vomitado pelo último ao terceiro dia. Este retiro profiláctico pretendia maturar a maldade do ser humano, limar arestas perigosas, e fazer dele um exemplo. Um pouco à imagem do resguardo de Jesus em relação à última aquisição do Benfica, e que ainda não alinhou um único minuto esta temporada.

Não é segredo para ninguém que, depois da saída de Cardozo, mas sobretudo Rodrigo, o ataque do Benfica tem vivido, forçosamente, à custa da produção de Talisca e dos rasgos de Salvio e Gaitan. Lima, historicamente segundo avançado nos esquemas de Jorge Jesus, ainda só marcou um golo de bola corrida. Enquanto Talisca, posicionalmente, não cumpre o profetizado pelo seu treinador, Lima desdobra-se em acções que compensem a pouca cultura do ex-Vitória em metros tão avançadas do campo. Está mais perto da baliza, mas mais longe do golo. Parece contraditório, mas faz todo o sentido num mestre a cair em 'Terras de Ninguém'. Aguarda agora a eclosão de Jonas, ainda a maturar dentro do peixe. Mas será que o outrora craque do Brasileirão é a navalha afiada pronta a rasgar o pobre registo dos avançados da equipa?

O passado de Jonas no Valência elucida-nos um pouco. Riscado das opções de Nuno Espírito Santos, Jonas caiu no buraco negro das opções a custo zero. Resgatado por Jesus, apresenta números interessantes na equipa ché... a jogar, quase em exclusivo, no apoio a Roberto Soldado ou a Páco Alcácer, a nova sensação no Mestalla. A partir de 2011, destacou-se pelos golos decisivos, mas nunca foi o goleador-mor, tendo alcançado a sua melhor marca sob as instruções de Unai Emery em 2011-2012. Ao longo dos três cursos que frequentou em Valência, anotou 53 golos, com uma média de 0,3 golos/jogo. Mais do que somatórios gordos, Jonas escolhia bem onde, mas sobretudo quando marcar. Salvou o 'Morcego' inúmeras vezes nos instantes finais, mas também foi expulso com uma assiduidade alarmante.

Aos 30 anos, é uma das últimas palavras das pregações de Jesus. Fazer dele um exemplo é romper com todo o seu passado mediano enquanto definidor. Talvez seja mesmo aquilo que o jogador necessita, agora que o sol começa a baixar na linha do horizonte da sua carreira. O Benfica, esse, precisa claramente.