Islândia: agora são mais famosos que Bjork

O cenário é idílico. Quase decalcada a papel vegetal de um cenário do 'Senhor dos Anéis', de Peter Jackson, amontoam-se as casas de turfa, semi-enterradas nas planícies verdejantes que também se multiplicam no mundo fantástico recriado da obra de Tolkien. Mas esta história não tem um herói improvável, como o pequeno 'hobbit' que abandona o Shire para empreender uma tarefa rejeitada por homens mais musculados que a pequena criatura de dimensões diminutas. Localizada a meio caminho entre a Europa Continental e a Gronelândia, a Islândia é uma terra de gelo e fogo que, devido à localização numa dorsal atlântica, apenas estava habituada a vibrar devido à intensa actividade vulcânica, principal responsável pelo gradiente geotérmico que afecta as paisagens locais. Até ontem, noite em que os islandeses fizeram história e venceram pela primeira vez a Holanda de Robben e companhia. Poder-se-ia pensar que a presença da Islândia no 'playoff' de acesso ao mundial brasileiro havia sido apenas obra do acaso. A forma autoritária como, em três jogos, se impuseram a Letónia, Turquia e Holanda, desmente os jogos de sorte e azar. A competência demonstrada posiciona-os no topo do Grupo A, numa corrida a uma grande competição que, a confirmar-se a presença, terá nos nórdicos a selecção com a menor densidade populacional já registada em torneios daquela dimensão.

Mas qual é o segredo da Islândia? O aglomerado ilhéu é pouco menor que a Grã-Bretanha. Com 300.000 habitantes, 'somente' 22.000 são federados. O feito, ainda por alcançar na sua máxima extensão, ganha ainda maior relevo se pensarmos que esta geração de internacionais foi a primeira a usufruir de 'indoors' o ano inteiro, tendo sido construídos os primeiros há 14 anos atrás. Há 20 anos, Eidur Gudjohnsen, até aqui o jogador mais famoso da ilha, treinava apenas ao ar livre, com temperaturas a nunca subirem os 10.º no termómetro de Reykjavik. As infraestruturas emergiram do solo como tufos de relva, mas o principal responsável pelo sucesso da selecção é Lars Lagerback. O experiente técnico sueco trouxe experiência, saber na organização defensiva, inteligência às explosões de Bjarnasson (Pescara) pela direita, melhorou o jogo de cintura de Sightersson (Ajax)...tudo com um fim. Dispostos num 4-4-2 com reminiscência inglesa, todas as movimentações da equipa tem um propósito: dar espaço de manobra para Sigurdsson poder preparar o seu remate arqueado. O médio do Swansea soma quatro golos na fase de qualificação, e é legítima a aspiração a ter um 'Eddar' (saga e poesia islandesa que evocam feitos viking) inteiramente a ele dedicado.

Considerado o país mais seguro do mundo, a Islândia não deixa ninguém sossegado dentro das quatro linhas. Parecem agora longínquos os tempos em que era Gudjohnsen e mais dez. Os heróis vem e vão, mas as lendas ficam para sempre. Esta selecção já garantiu que ninguém se esquece deles.

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