Jorge Jesus: o legado de um dos melhores comunicadores sobre o jogo em Portugal

Jesus e a tomada de decisão, aqui com Jonathan
Contrariamente à larga maioria dos analistas da nossa praça desportiva, considero Jorge Jesus um dos melhores comunicadores futebolísticos em Portugal. Numa Península ibérica em que os ensinamentos sobre o jogo estão hermeticamente vedados ao meio exterior, as intervenções do agora treinador do Sporting são sempre uma lufada de ar fresco para quem pretende sorver algum do conhecimento que a maior parte só vê concretizado em dia de jogo.

O discurso de Jesus sobre futebol é claro como a água. Não vale a pena perder tempo com as afamadas dificuldades evidenciadas na construção frásica, ou a repetitiva confusão sobre o nome deste ou daquele jogador. Para Jesus isso é completamente despiciendo. Importa-lhe a valorização pessoal enquanto treinador que, aliás, sempre foi confundida com algum narcisismo que, nas vitórias, o seu discurso parece patentear. Importa-lhe o legado que vai deixar, e só podemos estar gratos por mantê-lo aqui por perto. Uma das pontas dessa herança (presente) prende-se com a formação. Que, neste caso, até nos dá algumas pistas sobre a programação da época leonina, afastando o ex-técnico do Benfica da pressão de uma casa que, historicamente, aposta nos jovens. 

Jesus está ciente dessa realidade, gabando-se-lhe, por isso, a ousadia de sair da zona de conforto que havia construído no Benfica nos últimos 6 anos. No entanto, importa começar a perceber que a formação não se esgota na juventude. "Obviamente que retiro maior prazer em ensinar um jovem, pois as suas lacunas, à partida, são mais evidentes que num jogador de 32 anos e com larga experiência .Mas atenção, a formação são os jogadores! A formação não tem idade, cor, nacionalidade". 

A formação é um processo infindável. Pelo menos nas mãos de um dos maiores mestres do treino que existem em Portugal. Lapidar, aprimorar, esculpir. Não tecnicamente, fisicamente, mas na tomada de decisão e ritmos que normalmente as dinâmicas do seu modelo exigem. Esteja o jogador com idade júnior, prestes a subir da Academia ao plantel principal, ou apresente 35 anos no bilhete de identidade. Jorge Jesus diz que tem um sonho: ser melhor treinador do que aquilo que conseguiu ser na sua equipa passada. Se conseguir ter sucesso neste Sporting em processo de revitalização desportiva (convém, porém, não atirar para debaixo do tapete o trabalho de sapa de Leonardo Jardim e Marco Silva), terá o propósito satisfeito.

António Borges

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