Lopetegui: a perversão de entregar o comando da consola aos jogadores

A sala das máquinas mental do atleta estava alimentada, mas era agora necessário um plano que a tornasse eficiente a longo prazo. Chegava a revolução do 'jogar' de Lopetegui, a osmose quase perfeita - que agora começa a descolar do rótulo de utópica - entre teoria e prática. Aquilo que é a definição de uma equipa de topo, que "não diferencia processos ofensivos de defensivos", prometendo catapultar este FC Porto para aquele limbo extremamente desejado, mas que todos julgam impossível: a ausência de desequilíbrios próprios, uma equipa homogénea à procura de minimizar o impacto das transições no desfecho de uma partida. A chave é a relação com a bola, "saber o que fazer com a sua posse para que não se vire contra nós". Para que isso possa acontecer, o maior aliado do jogador é uma característica que, infelizmente, não desfruta da valorização oferecida a outras. A inteligência, exercitada pela repetição mas, e sobretudo, por uma capacidade decisiva na "descoberta espontânea" daquilo que o singular pode oferecer quando enquadrado nas pequenas sociedades posicionais que demarcam uma grande equipa das outras. Ferramentas que alicerçam o essencial, mas que não podem tolher a criatividade. Porque no fim, como lembra o espanhol, tomar decisões não é um direito, mas sim uma exigência.
Ensinar futebol é isto. Perverte, instrui a mente, deixando espaço para que ela decida por ela própria.
António Borges
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