Gonçalo Guedes: um verdadeiro 'rocknrolla' para a frente da Selecção

"O que é um verdadeiro Rocknrolla?", pergunta-nos a personagem de Gerard Butler, no monólogo que serve de mote e preâmbulo à alucinante aventura cinematográfica que foi a obra-prima de Guy Ritchie nos idos de 2008. Para quem quer saber a resposta, o melhor mesmo é ver o filme e, depois,
estar atento às exibições de Gonçalo Guedes até ao final da temporada. Tem tudo. Tudo aquilo que Fernando Santos procura para complementar uma frente de ataque até aqui extremamente desequilibrada.

Se a posição de Ronaldo não levanta qualquer suspeita (nunca pode jogar como referência atacante do tridente ofensivo), já a dos seus companheiros de ataque exigem algum tempo passado a coçar o queixo, ou aquela parte da nuca que sempre oferece cócegas desconfortáveis. Sou fã número um da inteligência de Nani, mas nunca partindo da ala. O extremo, ex-Sporting, pode muito bem encaixar neste modelo de Santos, mas no meio-campo, onde a sua inteligência (tempo) e capacidade de meia-distância podem causar estragos. Descartado, resta-nos Quaresma, um cigano que, na sua caravana personalizada, vende mais que os outros feirantes todos juntos, recusando-se a entrar no epílogo de uma carreira que parece ter mais vidas que um gato mágico. O rapaz decide, cruza com as coordenadas milimetricamente alinhavadas e, agora, depois dos correctivos mentais de Lopetegui, é extremamente solidário para com o parceiro de corredor em transição defensiva. Mas então, quem pode completar a tríade de ataque no Europeu francês?

Gonçalo Guedes foge a qualquer estereótipo criado à volta dos jogadores formados do meio-campo para a frente em Portugal. Não tem a finta curta de Quaresma ou Nani. Não foi talhado para ser mais um projecto falhado de ponta-de-lança de referência (tenho as minhas reservas quanto a Gonçalo Paciência, e André Silva nunca encaixaria na dinâmica em que o engenheiro insiste). Pese não apresentar quaisquer uma dessas características ou o histórico juvenil dos citados, é impossível ficar indiferente àquilo que o jovem dos quadros do SL Benfica empresta jogando como referência. Tem mais golo que Nélson Oliveira (que deveria ter crescido no espaço da selecção, se existisse há mais tempo um projecto de elite na casa das selecções; podia ter sido uma espécie de Martial), entra em qualquer estatística do jogo (se o futebol fosse como o basquetebol, Gonçalo Guedes tinha sempre números assustadores), seja através de recuperações de bola, remates enquadrados com a baliza, assistências ou aquilo que, por estes dias, cada vez mais se espera dele, que são os pontos que dá à equipa. Tudo isto vindo de um miúdo que, a cada conferência de imprensa, lá se senta, desajeitado, com voz ainda desafinada e moçoila, para depois, quando sobe ao relvado, dar provas de que a maturação futebolística acomete-nos a todos de diferentes formas. Não tenho qualquer dúvida de que não há momento certo para Guedes: o JOGADOR está pronto. Mentalmente está ao nível de Rúben Neves, com toda a responsabilidade que aos dois isso acarreta.

Poderá ser uma observação precipitada, mas ver Gonçalo Guedes faz-me sempre recordar as palavras que Jorge Valdano, completamente enamorado, endereçou a Messi quando os 'media' discutiam se estava pronto para entrar numa equipa que andava ao sabor de outros contra-mestres blaugrana, como eram Xavi e Ronaldinho: "todo o jogador que trata bem a bola, trata bem o espectador".

António Borges

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