Celta de Vigo e Nolito: o futebol de salão destruiu o 'tiki-taka'

Entusiasma-me o novelo que Thomas Tuchel montou em Dortmund, arregalo os olhos para a série interminável de passes que leva o West Ham de Bilic em busca do golo em pleno Ethiad, e coço o queixo - embora ainda relutante - com a falta de profundidade lateral deste Inter de Milão, mas que rapidamente sucumbe aos números invictos que os italianos apresentam na Série A. Como qualquer guia turístico, todos as cidades tem o seu ponto de interesse fulcral. No entanto, em nenhuma destas etapas de passeio futebolístico encontramos um jogador como Nolito, o proscrito mais talentoso dos últimos dois anos no futebol europeu. Por arrasto, o seu Celta de Vigo. Uma casa que albergou o futebol onde todas as equações esquematizadas para parar o pequeno demónio da ala, formado no Barcelona, parecem sair furadas. Sai em posse, resulta. Quando não acontece, a formação de Toto Berizzo não se resigna à velha máxima do "se há um plano B, o A está automaticamente fadado ao insucesso". Roto o misticismo secular, bola larga à procura da profundidade do esquivo Aspas, com o apoio do irrequito Orellana, uma formiga atómica que não guarda para o Inverno o que pode fazer no Verão dos Balaídos. Enquanto o Celta procurava demolir, o Barcelona apenas não queria ser atropelado. E, a bem da verdade, quase o conseguiu. Aí, emergiu Sergio, que não teve mãos a medir sempre que Jonny Castro - o cão de caça de Berizzo - deixava Messi e Neymar fugirem. Salvo os rasgos dos dois, o jogo estava exactamente onde o Celta queria. Iago Aspas pressionava, Nolito mordia os calcanhares a Piqué e as restantes duas linhas de quatro do Celta ganhavam metros sempre que lhes era permitido. Parecia um jogo do Mundial de Rugby, onde a contenção só é furada pela velocidade de execução daqueles a quem lhes está destinada. Estava dado o mote para o vendaval dos Balaídos, um relvado que se transforma numa quadra de futebol de salão. Constrói-se, mas também se procura a profundidade dos mais dotados tecnicamente. Como o é Nolito: parece que não tem articulações suficientemente largas no pescoço (tenho um tio que defende que os marrecos são sempre deliciosos!) que o façam levantar a cabeça e procurar o buraco mas, cruzamento de Hugo Mallo, Nolito controla e faz aquilo que melhor sabe: de pé direito, pega no comando da consola e arqueia uma bola com selo ao canto mais inusitado da baliza à guarda de Ter Stegen. Nada que não se lhe (re)conheça, de resto.
Afoito, mas com linhas bem posicionadas, a intensidade e pressão que caracterizam este Celta fazem-se, desde logo, sentir na saída de bola adversária. A sagacidade de Aspas e Nolito a importunar Piqué no lance que terminaria naquele boné deslumbrante a Ter Stegen são o exemplo máximo do compromisso de todas as linhas dos de Vigo em recuperação. Reacção-Acção!, ordena Toto Berizzo, qual realizador. O Barcelona tentaria minorar os estragos, mas o remédio desta vez não surtiu efeito (Sergio, novamente), aproveitando o Celta para, nesse período, rebentar a bolha de esperança dos culés, practicando o futebol que mais lhe convinha. Tocam curto, sai. Esticam, sai. Estão naquela nuvem da qual esperam nunca escorregar, onde tudo lhes sai como idealizado. E de onde eu também espero que nunca caiam.
António Borges



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