River Plate: o feijoeiro de Marcello Gallardo foi pensado


É possível uma equipa brotar do bloco de notas de um treinador, como que por geração espontânea? Este River, que lidera o Apertura, parece retirado de um frame do crescimento da fábula de Benjamin Tabart, 'João e o Pé de Feijão'. Para isso, bastou acrescentar à equação um presidente, um treinador novo, e o produto obtido é uma equipa que, por instantes, começa a assombrar os campos argentinos onde se faz apresentar. Se na maior parte das coordenadas futebolísticas a continuidade é um garante de estabilidade e crescimento, a vertigem dos líderes ao comando deste River Plate prova que há mais que uma estratégia para chegar ao topo. Mas aqui, treinador e presidente tem pesos distintos, e por detrás do mistério sobre os modos agressivos com que o emblema se colocou no topo do Apertura, está uma ideia. A ideia do seu treinador. A ideia de Marcello Gallardo.

Em 1965, o River era presidido por Saccol. Categórico, não conseguia transportar a personalidade abrasiva para o relvado. Os técnicos desfilavam. Até que chegou Pizzuti, com o seu caderno. De anotações simples, maioritariamente defensivas, que marcaram a década ofensivamente mais acanhada dos milionários. O sul-americano nasce pré-disposto a atacar, e Pizzuti foi crucial na 'domesticação' de uma ideia que hoje exporta tantos defesas argentinos para os restantes continentes do planeta. Foi uma revolução disciplinadora, mas fulcral, também nas bolas paradas. Um canto a favor era celebrado como se de um penalti se tratasse. Foi uma das épocas mais produtivas e gloriosas do River Plate.

Tal como nos idos de sessenta e daquela mestria de Pizzuti, o feijoeiro de Gallardo não cresce em direcção aos céus apenas por artes mágicas. Há uma ideia, que é sua. Recuperação da bola o quanto antes e mais à frente possível, flutuação da bola entre sectores, rapidez, precisão. Quando sai bem, dificilmente uma equipa que empregue este estilo não termina com 15 pontos de vantagem. Gallardo idealiza e realiza, mas os produtores no 'Monumental' são os jogadores, que já haviam conquistado o Clausura com a mesma sobriedade com que lideram este Apertura. Sem novelas, e só com duas ideias em mente. A vontade de seguir a do seu treinador, e a de querer ficar na história do River Plate.


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