Paulinho, Geraldes, e as cadeiras de Engenharia Civil
Se a solidez e alicerces de um edifício estão nas suas bases
inoxidáveis à acção de quem o procura decompor, com que objectivo se edifica
tamanha
estrutura a partir do seu pináculo? Estruturalmente fará pouco sentido.
O mesmo não clamaria, porventura, um arquitecto, mais dado ao desprimor da
funcionalidade por troca com a exuberância das vistas. Do ponto de vista,
arquitectónico, talvez Luís Castro, Ricardo Soares e Pedro Emanuel possam
oferecer algumas pistas. Numa fase precoce da temporada, onde seria expectável
que a maior parte das equipas se preocupasse, primeiro, em não sofrer, estes
três técnicos apresentaram ao mundo versões estruturais que tudo fizeram para
alterar este paradigma inteligentemente prudente.
Se no D.Afonso Henriques - e no Dragão - a maquinização do
sector recuado foi gritantemente ineficaz, na Vila das Aves esses erros
nasceram por erros individuais dos dois centrais do Desportivo das Aves. Tanto
num caso, como no outro, a inoperância resultou em resultados desnivelados, que
só a pontaria de William, em Guimarães, conseguiu atenuar. Nos dois primeiros
casos, a falta de noção posicional, que interliga as duas primeiras fases do
jogo (construção e criação), foram negligenciadas pela tríade (guarda-redes -
laterais - centrais) responsável por esse momento tão importante para a
segurança de uma equipa. Se o objectivo teórico passava por deixar belos
registos quantitativos da capacidade definidora das suas equipas, de certeza
que a negativa às cadeiras de 'Desenho de Construção' e 'Física das
Construções' fará estes três técnicos rever prioridades.
No pólo oposto aos erros de engenharia civil, as
obras-de-arte em Portimão e nos Arcos, Vila do Conde, eclipsaram qualquer
análise fria e calculista. Emergiu Paulinho, médio vistoso do Portimonense, que
já havia sido falado para o FC Porto, num interesse que terá esbarrado na
proibitiva cláusula de rescisão (não é a mesma coisa dar 10 milhões por um
local ou por um 'estrangeiro', infelizmente). Se tivesse que traçar um
comparativo entre o brasileiro e um jogador do passado recente dos nossos
relvados, apontaria o nome de Deco. A forma como antevê o que se vai passar
antes que a bola lhe toque o pé para, depois, num gesto repentino, tirar o
adversário do caminho com uma recepção orientada mortífera, em tudo me recordam
o ex-internacional português. Posso estar muito enganado, mas as sensações que
me passou é a de estarmos na presença de uma das futuras figuras desta edição
da Liga. Nos Arcos, mais do mesmo da autoria de Francisco Geraldes. Com uma
semana a trabalhar às ordens de Miguel Cardoso, Geraldes fez jus à excepção
deontológica máxima de Guardiola, que preza o jogador inteligente e as
repercussões que a previsível falta de rotina deste com os companheiros
deixariam antever na manobra colectiva. Geraldes está para o Rio Ave como
Bernardo Silva esteve para o Manchester City com o mesmo tempo de preparação
conjunta. Porque as ideias, como o próprio sublinhou numa publicação recente,
"são à prova de bala".
ANTÓNIO BORGES
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