Taça das Nações Africanas 2017: os talentos emergentes da competição

Com uma bola nos pés, África já provou que não há motivos para invejar a Europa. Os seus jogadores talentosos (e muitas vezes com um sistema cardiovascular anormal) há muito que abastecem os maiores clubes do 'Velho Continente', que estão constantemente na sua peugada, não lhe perdendo o rasto desde que surgem naquelas academias onde só aos 14 anos lhes é permitida a bênção de forrar os pés com umas chuteiras. Grandes nomes como Didier Drogba, Yaya Toure, Samuel Eto'o ou até mesmo Abedi Pelé são apenas alguns dos exemplos que, por entre as plumas, danças e pinturas corporais, enamoraram a Europa na CAN, povoando, depois, os mais avançados centros de formação futebolístico. Para lá das carreiras recheadas e marcantes, conquistaram o direito a não mais sair do nosso imaginário. E isso, nos dias que correm, é tão raro que se torna impagável.   

Eis alguns dos nomes que prometem seguir-lhes as pisadas a partir de Janeiro de 2014, no Gabão:

NOTA: excluí, naturalmente, nome óbvios como os de Salah (Egipto), Sadio Mané (Senegal), ou Pierre Aubameyang (Gabão), entre outros já consagrados.

1. Mario Lemina, a pantera preta e branca (Gabão/Juventus)

Formado a meias entre o Lorient e o Marselha, o médio-defensivo, agora na Juventus, marcou sempre presença nas selecções jovens francesas. Assim que se transferiu para Itália, começou a desaparecer do radar dos observadores gauleses, muito por culpa do tempo de jogo diminuto que o eficiente Marchisio lhe roubava no super-disputado meio campo da 'Velha Senhora'. A lesão do internacional italiano veio, em parte, corrigir essa lacuna, permitindo a Lamina somar minutos preciosos, muito a tempo da sua inclusão na lista final de Camacho (seleccionador do Gabão) para a CAN 2017. Muito falado para reforçar as fileiras de Leicester e RB Leipzig, a última palavra sobre o seu futuro caberá sempre à 'Juve'.

2. Ramadan Sobhi, o novo "O pé egípcio" (Egipto/Stoke City)

Aos 19 anos, o avançado dos quadros do Stoke City inglês incorpora a nova vaga dos 'Faraós'. Autor do golo decisivo do Egipto na qualificação diante da Nigéria, Ramadan goza de imensa popularidade no seu país, ganhando até a alcunha de "novo Aboutrika", o lendário centenário pela selecção, à qual juntou três títulos da CAN, transformando o Egipto na maior força continental no final dos anos 90' e começo do milénio. Dono de um drible desconcertante, há quem encontre semelhanças no seu jogo com o de...Zidane. Uma comparação lisonjeira...e perigosa. Há demasiados 'novos Zidanes' no cemitério da memória.

3. Daniel Amartey, soberbo a tempo inteiro (Gana/Leicester)

Quando Claudio Ranieri trouxe Mendy para suprimir a ausência forçada de Kanté (transferido para o Chelsea), cedo se percebeu que o reforço estava a léguas do nível exibido pelo agora internacional francês. Uma lesão veio agravar o cenário de Mendy, emergindo Amartey, ex-Copenhaga, como uma solução que, se no início era de recurso, agora é integral na estabilização que o Leicester tanto necessitava depois do sucesso inesperado da época passada. Versátil e poderoso fisicamente, noticia-se a cobiça dos grandes de Inglaterra nos seus serviços. Ou seja, nova dor de cabeça para o técnico italiano.

4. Nabil Bentaleb, um dez no meio de outros tantos (Argélia/Schalke 04)


Mahrez, Feghouli, Brahimi...a selecção argelina impressiona pelo infindável manancial de soluções atacantes de qualidade. A lista de virtuosos parece não ter fim, mas a posição de médio mais ofensivo está entregue a Bentaleb. Aposta do Tottenham no passado, esta temporada viu serem-lhe vedados os caminhos de White Hart Lane, levando o seu futebol para o exigente campeonato alemão. Está no Schalke 04, onde já leva quatro golos e duas assistências, provando que o argelino é mesmo um nómada que brota e se estabelece com facilidade nas latitudes mais áridas e bravias. 

5. Bertrand Traore, a seta do Burkina Faso (Burkina Faso/Ajax)

Apesar da tenra idade, Traore já conta com mais de 100 jogos como jogador profissional. Foi a cara da nova vaga que emergia no Chelsea após a partida de Drogba mas, para já, tem vindo a pautar a sua carreira pela cautela que se aconselha a talentos tão jovens. Alvo de sucessivos empréstimos (primeiro no Vitesse, agora no Ajax), uma CAN estonteante poderia fazer Conte repensar sobre a sua utilidade imediata num plantel que, a bem da verdade, já está bem apetrechado e preparado para os desafios da Premier inglesa.

6. Franck Kessie, talento negro de Bérgamo (Costa do Marfim/Atalanta)

A formação de Bérgamo sempre depositou total confiança na sua afamada academia (talvez a melhor, em Itália), potencializando ao máximo os jogadores ali trabalhados. Franck Kessie é o último produto dessa aposta, somando uns impressionantes sete golos e duas assistências à sua estatística pessoal. Será muito complicado a Atalanta segurar o marfinense. Uma CAN de luxo, poderá não jogar a favor das pretensões da Atalanta, uma das surpresas da Série A. Juventus e Manchester City posicionam-se já na 'pole' para se apropriarem de uma das jóias dos 'Elefantes' laranjas.

7. Keita Balde Diao, o legionário senegalês (Senegal/Lázio)

Formado na aclamada La Masia (centro de formação do Barcelona), Keita Diao abandonou os catalães ainda em tenra idade. Aos 16 anos estreou-se pelos romanos, e demorou apenas mais um ano até se estabelecer com um dos imprescindíveis na formação 'laziale', cotando-se já como um dos mais experientes do plantel. Tudo isto aos 21 anos! Aposta regular e firme na asa esquerda romana, encontra na selecção senegalesa a emulação da responsabilidade que lhe é entregue em Itália. Juntamente com Sadio Mane (Liverpool) e Diamé (Newcastle), é uma das figuras de cartaz da formação liderada for Aliou Cissé. O Senegal promete muito nesta CAN!

8. Sofiane Boufal, a pepita marroquina (Marrocos/Southampton)

Após ter deslumbrado pelos relvados da Ligue 1 ao serviço do Lille, viu os seus esforços reconhecidos com a coroação de jogador africano do ano naquela liga caseira. Tranferido para o Southampton, tem deixado de boca aberta os observadores da Premier League, com dois golos fantásticos a atestar a sua qualidade técnica muito, muito acima da média. O jovem, formado no Angers de França, parece adaptar-se rapidamente ao ritmo britânico, tendo sido convocado pelo seleccionador Herve Renard para disputar a sua primeira CAN. Em boa hora, pois o seu jogo desconcertante certamente será muito requisitado frente aos muito exigentes combinados da Costa do Marfim e RD Congo.


António Borges







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