Diogo Jota: quando a lesão de Danny pode ser uma boa notícia

Tinha programado este artigo sob um outro ângulo. Um olímpico, como se assumem os prodígios, prontos a explodir-nos em frente aos olhos quando em Agosto ligamos o televisor. Desde a sua estreia na selecção sub-19 que assumi que Diogo Jota - sensação do Paços de Ferreira e que há duas semanas bateu o recorde de Simão Sabrosa (jogador com menos de 20 anos a marcar mais de 10 golos) - teria a sua ascensão futebolística programada. É verdade que aparece (com 17 anos) na primeira divisão portuguesa no mesmo ano de Rúben Neves mas, e talvez vítima da menor projecção mediática oferecida ao 'seis' do FC Porto, sempre olhei para Diogo Jota como um produto para ser trabalhado aos poucos por Rui Jorge nas selecções nacionais.

Ou porque Gonçalo Paciência e André Silva ameaçavam o projecto do 4-4-2 dinâmico que se pretende implantar em todas as camadas de formação lusas de elite, ou porque o mesmo 4-4-2, como provou o último Europeu 15' (perdido nos penaltis para a Suécia), se adaptava à abundância de soluções ofensivas que todos os anos parecem brotar das nossas academias. Portugal vai-se habituando (finalmente!) a jogar sem uma referência mais física e robusta em zonas de finalização, patrocinado pelo excelente torneio de Ricardo Pereira e Ivan Cavaleiro, dois avançados soltos que beneficiam do meio-campo em diamante que foi encabeçado por Bernardo Silva.

A noticiada (e confirmada) lesão de Danny abre uma vaga nas escolhas de Fernando Santos. Se pensarmos no extremo luso-venezuelano do Zenit, é uma pena (onde está habituado a jogar em 4-3-3, com Dzyuba mais posicional). Se pensarmos no seu baixo rendimento nos testes diante de Bulgária e Bélgica - onde o mesmo 4-4-2 com Ronaldo e Nani diabólicos a aparecer em todo o lado - talvez olhemos para esta baixa como uma excelente janela de oportunidade. Mas para quem? A resposta pode passar por Diogo Jota. Pelo menos deveria ser equacionada.

Diogo Jota está longe de ser o arquétipo de ponta-de-lança que - para os que seguem ligas como a inglesa -, ansiavam que fosse. Contudo, isso está longe de ser uma má notícia. Na verdade, Diogo Jota é o jogador mais interessante para suprir a vaga deixada por Danny. A forma como decide o jogo na Madeira, diante do União, é um exemplo clássico daquilo que o jovem de 19 anos tem para oferecer: ágil com e sem bola, tem um drible curto arrasador no último palmo do terreno, onde é capaz de progredir com a bola controlada sem nunca perder o enquadramento com a baliza. Os números atestam a ferocidade junto à área adversária (11 golos em 28 jogos), sendo ainda relevante a capacidade de criar jogo. Seja para a largura conferida por Hélder Lopes, ou para Bruno Moreira, o 'nove' clássico de Jorge Simão no Paços de Ferreira.

Pela proximidade e boas relações institucionais, é um bocado estranho como um talento deste quilate passou ao lado do radar de clubes como o FC Porto ou o SC Braga. Aparece no Gondomar, acabando a formação no clube que agora o projectou a tal ponto que, diz-se, lhe garantiu uma vaga na pré-época do Atlético de Madrid de Simeone. Diogo Jota é a prova de que até nos cantos mais ermos e escuros da Portugalidade futebolística existe potencial e qualidade. Cabe a palavra ao seleccionador nacional: ou lança o futuro sem receios (o que até seria fácil, visto que Rafa, Nani e Ronaldo são o trio com lugar assegurado no onze), ou espera que o compasso do tempo faça o seu trabalho.

António Borges

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