Diogo Jota: quando a lesão de Danny pode ser uma boa notícia

Ou porque Gonçalo Paciência e André Silva ameaçavam o projecto do 4-4-2 dinâmico que se pretende implantar em todas as camadas de formação lusas de elite, ou porque o mesmo 4-4-2, como provou o último Europeu 15' (perdido nos penaltis para a Suécia), se adaptava à abundância de soluções ofensivas que todos os anos parecem brotar das nossas academias. Portugal vai-se habituando (finalmente!) a jogar sem uma referência mais física e robusta em zonas de finalização, patrocinado pelo excelente torneio de Ricardo Pereira e Ivan Cavaleiro, dois avançados soltos que beneficiam do meio-campo em diamante que foi encabeçado por Bernardo Silva.
A noticiada (e confirmada) lesão de Danny abre uma vaga nas escolhas de Fernando Santos. Se pensarmos no extremo luso-venezuelano do Zenit, é uma pena (onde está habituado a jogar em 4-3-3, com Dzyuba mais posicional). Se pensarmos no seu baixo rendimento nos testes diante de Bulgária e Bélgica - onde o mesmo 4-4-2 com Ronaldo e Nani diabólicos a aparecer em todo o lado - talvez olhemos para esta baixa como uma excelente janela de oportunidade. Mas para quem? A resposta pode passar por Diogo Jota. Pelo menos deveria ser equacionada.
Diogo Jota está longe de ser o arquétipo de ponta-de-lança que - para os que seguem ligas como a inglesa -, ansiavam que fosse. Contudo, isso está longe de ser uma má notícia. Na verdade, Diogo Jota é o jogador mais interessante para suprir a vaga deixada por Danny. A forma como decide o jogo na Madeira, diante do União, é um exemplo clássico daquilo que o jovem de 19 anos tem para oferecer: ágil com e sem bola, tem um drible curto arrasador no último palmo do terreno, onde é capaz de progredir com a bola controlada sem nunca perder o enquadramento com a baliza. Os números atestam a ferocidade junto à área adversária (11 golos em 28 jogos), sendo ainda relevante a capacidade de criar jogo. Seja para a largura conferida por Hélder Lopes, ou para Bruno Moreira, o 'nove' clássico de Jorge Simão no Paços de Ferreira.
Pela proximidade e boas relações institucionais, é um bocado estranho como um talento deste quilate passou ao lado do radar de clubes como o FC Porto ou o SC Braga. Aparece no Gondomar, acabando a formação no clube que agora o projectou a tal ponto que, diz-se, lhe garantiu uma vaga na pré-época do Atlético de Madrid de Simeone. Diogo Jota é a prova de que até nos cantos mais ermos e escuros da Portugalidade futebolística existe potencial e qualidade. Cabe a palavra ao seleccionador nacional: ou lança o futuro sem receios (o que até seria fácil, visto que Rafa, Nani e Ronaldo são o trio com lugar assegurado no onze), ou espera que o compasso do tempo faça o seu trabalho.
António Borges
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