Danilo (Corinthians): quando é o jogador a influenciar o seu treinador

Sentam-se na parte detrás do autocarro, e parecem-se com aquele rapaz exageradamente calado que vai a viagem completa a ouvir ‘The Smiths’, enquanto olha, soturno, para a paisagem que vai viajando na janela onde encosta a cara. Parecem. O autocarro pára, os aucultadores saltam do ouvido, o rapaz desembarca e sobe ao relvado. Afinal, aquela sombra, é também o motor da equipa. É os travões, que recorrem a ele quando os calços mentais dos restantes já estao gastos. São o pára-brisas quando o discernimento para sair da pressão sufocante adversária rareia. Um desses passageiros de última fila é Danilo, médio do assombroso Corinthians de Tite que, num último sopro competitivo, assumiu o desafio de realizar a melhor temporada de uma carreira que já o escondeu no campeonato japonês, mas que também já o elevou a herói com a conquista da Libertadores, entre outras muitas outras competições. Tanto domésticas como internacionais.

Discreto, lento, até malandro, é a antítese de tudo o que encontramos neste Corinthians. Não faz as piscinas de Elias, não tem a exuberância estética de Vágner Love ou a fibra do prolífico Guerrero, mas tudo isso perde peso quando se vê um jogo de Danilo. Quando é para colar, a bola cola. Quando é para soltar, sai com precisão robótica. Já correu as posições todas na equipa, assumindo-se como a chave de fendas multi-pontas que tanto jeito dá em alguns momentos da época. Tudo isto pela calada. Sem promessas, sem o empurrão da imprensa, tão habilidosa a vender futuros como a ocultar as virtudes dos anti-estrela. Aos 35 anos, comparam-no a Ganso, uma ave que prometia virar a ampulheta migratória da meia brasileira, tão granítica no anterior consulado de Dunga. Ao contrário do seu ex-colega Neymar, não haveria de ser ele a tirar o futebol canarinho da área cinzenta em que se encontrava. Também não será Danilo, mas essa nunca foi a promessa que ele vendeu.

Essa não é a tarefa de Danilo, que continuará a ser aquilo que um treinador considera mais importante: ajudá-lo a ser melhor. E isso consegue-se vencendo, porque o bom treinador é aquele que vence. Haverá melhor parceiro de crime que Danilo, titulado com mais de vinte troféus?


António Borges

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