Alberto Bueno (reforço do FC Porto): não sobressai mais quem bate com a mão no peito

Há um fenómeno, muito peculiar no futebol de formação, que é facilmente reconhecível por qualquer um que assista, a exemplo, a um treino de captação de sub-9/10. Como se isso fosse sinónimo de compromisso com o jogo e/ou sinal de capacidade de liderança, os nomes mais céleres a saltar da caneta do observador para o seu caderno, são aqueles que demonstram traços de extroversão na sua personalidade.  Pedem a bola no pé com a mesma velocidade com que levantam a voz ou fazem cara feia. Alberto Bueno, avançado que chegará para fazer as vezes de Jackson, é apenas o último exemplo que vem contrariar o critério. Não será o último, certamente.

Hoje, é o maior goleador espanhol da actual edição de ‘La Liga’. Continua a celebrar os seus golos impávida e serenamente, como já havia feito quando se sagrou o melhor marcador do Europeu de sub-19, em 2006, numa equipa em que pontificavam nomes como os de Mata, Piqué, Granero ou Javí Garcia. Todos eles fiéis discípulos da fúria espanhola que, por pecar em Bueno, sempre lhe retiraram maiores chamadas às capas dos desportivos espanhóis. Mesmo que o avançado, formado no Real Madrid, fosse claramente o farol daquele geração.

Bueno nunca usou os calções abaixo da cintura, não teve pentados espalhafatosos, nem festejava de forma elaborada os golos que apontava. Assumia concretizá-los com a mesma discrição com que o lateral vai à linha de fundo e tira o cruzamento: faz parte do ofício. Talvez a neutralidade de um perfil pouco exuberante o tenham colocado fora do radar. Porém, as suas faculdades prodigiosas de entender o jogo cresceram de ano para ano, acrescentando à capacidade de aparecer no espaço a habilidade de um médio de criação. 

Continua a somar. Sem declarações explosivas, sem rugir com a palma da mão no peito, jogando quase como quem pede desculpas por ser tão talentoso. Como um certo avançado colombiano que ainda mora no Dragão.

António Borges



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