Mercado de inverno: afinal, quem é mesmo reforço no nosso campeonato?

Há um par de dias, o fleumático treinador do Liverpool, Jurgen Klopp, lamentava-se da escassez de opções no mercado de transferências invernal. Advogava que faltavam opções de qualidade numa montra que, dada a sensível fase da temporada, sempre se apresenta inflacionada. O desabafo do técnico alemão tinha como intenção prioritária acalmar as hostes de Anfield, que se viram privadas de Sadio Mane durante o mês de Janeiro. Não foi para menos: sem o senegalês em campo, o Liverpool exuberante havia desaparecido, dando lugar a uma formação que, por exemplo, claudicou em casa diante dos galeses do Swansea. A janela de transferências deu o toque de recolher, mas Klopp não haveria de receber a prenda desejada. Afinal de contas, nesta altura, e como o próprio reconheceu, mais que suprir quantitativamente uma lacuna posicional, importa que a palavra 'reforço' seja dimensionalmente empregada de mão-cheia. Importa que traga algo novo à equipa. Em última instância, que nada roube à sua essência exibicional e processual.

Com isto em mente, o 'Futebol Tricot' foi tentar perceber quem, em Portugal, reforçou a sua equipa na verdadeira acepção da palavra.


Fede Cartabria (Sp. Braga): outrora apelidado de "Messi valenciano", o criativo argentino chegou ao Valência com a mesma idade com que o genuíno aterrou em Barcelona. Ultrapassados alguns problemas burocráticos na sua inscrição, haveria de se estrear pelos 'ché' em 2013, num particular diante do Milan. A exibição categórica valeu-lhe comparações com Pablo Aimar, atirando-o para a equipa titular escalada por Pizzi na estreia da liga espanhola nesse ano. Apesar das demonstrações de fino recorte técnico, o seu jogo iria perder-se no emaranhado das fracas exibições colectivas, sendo, progressivamente, relegado para segunda opção. Emprestado ao Deportivo, os críticos voltariam a enamorar-se por Cartabia, que rejeitaria uma chamada à selecção sub-20 espanhola para ver realizado o seu sonho de alinhar pela 'alviceleste'. Aos 24 anos, e após rejeitar nova renovação com o Valência, chega a um Braga onde falta, precisamente, a criatividade que este argentino pode emprestar. Depois de Xeka ser uma aposta falhada, e Tomás Martínez não ter correspondido, importa encurtar um bocado o raio de acção requisitado a Battaglia. O fantasista Cartabia pode muito bem ser a peça que faltava à equipa comandada por Jorge Simão.

Pedro Tiba (GD Chaves): privado desde o início do mês de Battaglia, o GD Chaves debatia-se com o enorme vazio que, a espaços e até à sua saída, foi compensado com o veterano Braga e Assis, que na ausência do argentino procurava defender dez metros mais à frente. O escolhido foi Pedro Tiba, médio com provas dadas e futebol que se assemelha em muito ao de Battaglia. Exímio no transporte, é óptimo a dar largura. Com e sem bola. Ultrapassada a travessia no deserto a que foi (estranhamente) votado após uma grande época no Braga (rodou no Valladolid), chega a Trás-os-Montes com a difícil missão de exorcizar os fantasmas que prometem assombrar uma equipa órfã de dois elementos até aqui absolutamente basilares. Pelo que já demonstrou em Setúbal, e depois no Braga, afigura-se como o homem certo para o papel.

Fábio Sturgeon (V. Guimarães): produto das escolas do Belém, Fábio Sturgeon desde cedo que foge ao avançado convencional formado em Portugal. Dono de uma técnica assinalável, surpreende pelo poder de choque e capacidade de queimar etapas no processo ofensivo. Numa equipa como a de Pedro Martins talhada para esse efeito-surpresa, Sturgeon apresenta-se como uma alternativa muito credível ao disciplinarmente volátil Marega. Finda a participação do maliano na edição deste ano da CAN, os responsáveis vimaranenses não esperaram para confirmar se este último mimetizava o abençoado estado de forma antes de partir para o Gabão. A parceria com Rafael Martins (a mais que credível alternativa encontrada a Soares) promete dinamitar a segunda volta de uma equipa que, dadas circunstâncias alheias, tem aspirações renovadas para o que falta jogar até Maio.

Nuno André Coelho (GD Chaves): o conjunto transmontano foi completamente retalhado em Janeiro, mas os responsáveis flavienses tem-se provado exímios a suprir as carências que este mês ditou. Para fazer dupla com Carlos Ponck, chega um central de elevado pedigree. Após a experiência bem sucedida numa liga menos competitiva (e que, ao bom estilo americano, privilegia o espectáculo) como a MLS, Nuno André Coelho emerge para colmatar a vaga deixada em aberto com a saída de Leandro Freire para o Japão. O ex-jogador dos quadros de FC Porto e Sporting traz tranquilidade e critério na posição, podendo ainda desempenhar as funções de médio mais defensivo sem comprometer o plano de jogo de Ricardo Soares. Não tem a pedalada de Assis, mas conhece os terrenos que pisa. Mesmo que aquela exibição no Emirates, diante do Arsenal, seja difícil de esquecer...pelas piores razões.

Adama Traore (Rio Ave): "é um mundo do Jorge Mendes. Nós apenas vivemos nele". Desconheço o autor da frase, mas sou incapaz de argumentar em seu desfavor. Após ser eleito o melhor jogador do Mundial de sub-20 em 2015, o médio todo-terreno foi recrutado pelo Mónaco ao Lille, onde havia completado uma temporada de estreia espectacular pela equipa principal. Já alinhou pela o conjunto do principado na Liga dos Campeões, tendo também marcado dois golos na carreira da equipa de Leonardo Jardim na 'Ligue 1'. Agressivo, é muito inteligente na ocupação dos espaços. Não apenas cá atrás - como a sua posição faria antever -, mas também na graciosidade que demonstra com a bola controlada, sendo capaz de cair nos flancos com a mesma adaptabilidade com que apresenta ao meio. Se nele confiavam para render Kondogbia no Mónaco, não será difícil fazer o mesmo com Filipe Augusto (Benfica, ex-Rio Ave).



António Borges

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