Podence, Horta, Grimaldo e Cervi: respirar a média latitude
Após duas semanas de trabalho, o nível de cobrança de quem tira os primeiros apontamentos e atenta ao valor dos reforços dos dois grandes lisboetas, é proporcionalmente inverso à dificuldade que, fisiologicamente, se encontra em respirar no pico do Verão português. Mesmo baixo, é impossível ficar indiferente aos primeiros sopros refrescantes que Podence (frente ao Mónaco), Horta, Grimaldo e Cervi (diante do Vitória de Setúbal) deixaram nestes primeiros amigáveis. Numa fase em que a manobra colectiva está pouco oleada (e, por isso, dada a análises díspares e inoportunas), os traços individuais destes quatro jogadores sobressaíram tanto dos demais que, mesmo num 'stream' de qualidade diminuta, tiveram o condão de despertar os sentidos cognitivos mais adormecidos.
Leves, com um centro de gravidade que lhes permite furar a densa e interminável floresta de pernas pesadas, este quarteto distinguiu-se pela qualidade das suas decisões, não cedendo à claustrofobia que a parca condição física sempre tenta confinar e impor aos jogos que decorrem nesta fase da pré-temporada. Denotando uma capacidade superior para proteger a bola, apenas em última instância se resignam à carga em falta adversária. Repentinos nos safanões que dão à dinâmica condicionada e vagarosa, serpenteiam a duas velocidades sem nunca perder o foco essencial de qualquer acção singular: a pluralidade. Astutos e ágeis na procura do espaço (com ou sem bola), em ruptura isolada ou apoio frontal com o colega de sector, demonstram um instinto e inteligência fundamentais para a recepção orientada. Que é o berço de qualquer acção de valor individual acrescentado ao serviço do colectivo, sem nunca descurar o essencial: o sentido de baliza. Seja partindo do corredor central e na última linha defensiva adversária, onde Horta e Podence manobram; seja na lateral, onde Grimaldo (sobretudo este) e Cervi (não será fácil fazer esquecer Gaitán, que cresceu muito como jogador na Luz) prometem elevar a qualidade e velocidade de decisão da equipa de Rui Vitória.
António Borges
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