Rui Fonte: empréstimo para acabar com o sofisma

Acirra a discussão em torno do futuro do futebol português, pese a sombra perpétua de quem e quanto vai lucrar. Pelo meio, um avançado que, aos 25 anos, começa a sair daquele lugar ermo e escuro em que caiem os futebolistas que até aos 23/24 anos não cumprem o preconizado. Rui Fonte, que depois de Boa Morte deu seguimento à 'Diáspora' de avançados portugueses no Arsenal inglês, teve que entrar por muitas portas pequenas para agora aparecer com a cabeça na janela de oportunidades. A de se assumir como alternativa que ultrapasse, por fim, a de avançado de recurso na selecção nacional. O caminho - agora que terá continuidade no escalão máximo - espera-se encurtado. Em proveito próprio, mas também do nosso futebol, órfão de um avançado que abata a relação causal entre preponderância na manobra ofensiva, e avançado concretizador.

O segredo para isso acontecer, está em exorcizar as múltiplas falácias à volta do que deve ser um avançado. E para o que serve, acima de tudo. Com passagens por Crystal Palace, Espanyol e Arsenal, só recentemente, Rui Fonte, e já na equipa 'B' do Benfica, teve um pecúlio de golos assinalável. Problema? Nenhum. Porquê? Porque um avançado não pode ser avaliado pelo número de vezes que introduz a bola na baliza. Isso seria um forma redutora de analisar um jogo que, tal como afirmou Patrick Vieira,  "é uma ciência". Porque o é, e as tarefas de um avançado estendem-se ao ponto de tornar indiferente quem finaliza. Rui Fonte faz com que isso aconteça: exímio nos movimentos de aproximação, baixa no terreno para ser mais um no apoio vertical, tabelando criteriosamente bem de forma copiosa. Resultado: em Guimarães, na sua estreia a titular, a saída de bola do Belenenses foi exemplar, e Rui Fonte teve tudo a ver com isso, usado e abusado para chegar com pés e cabeça à área do Vitória. A forma como deixa Carlos Martins na cara do golo será, certamente, apenas a carta de apresentação daquilo que veremos dele durante o que resta jogar no nosso campeonato.

O talento existe. Só precisa que o deixem respirar. Em boa hora Jorge Jesus se deu conta disso.

António Borges

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